Para todos os gostos: mercado imobiliário do Rio vive uma febre dos estúdios, com preços que vão de R$ 268 mil a R$ 3,5 milhões
Empresas criam coleções para seus compactos, que já contam com facilidades como shuttle, bar, maleiro e até 'pranchário'
Publicado em 19 de Outubro de 2024 às 08:18 PM

Do básico ao de luxo; do destinado à moradia ao voltado à locação de curta temporada; do sem espaço para carros ao que possui vagas com manobrista. A diversidade é grande, inclusive em número de unidades, mas o que não muda é o padrão compacto dos chamados estúdios ou lofts — a versão moderna das antigas quitinetes —, que viraram queridinhos do mercado imobiliário. Um empreendimento na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, chega a ter mais de mil apartamentos com área de 33 a 38 metros quadrados. Outro, nas proximidades do aeroporto Santos Dumont, no Centro, foi idealizado com 575 imóveis pequenos. E, como o negócio prospera, há empresas que criaram linhas para unificar seus edifícios desse segmento.
Para tentar atender às necessidades dos consumidores, existem projetos que preveem a construção de “pranchário" (para guardar pranchas), piscina de borda infinita, maleiro e bar. Um empreendimento inclui entre as facilidades serviço de shuttle e bicicletário. Também são levados em consideração os diferentes níveis de renda dos eventuais compradores, e os preços dos apartamentos chegam a variar de R$ 268 mil a mais de R$ 2 milhões, podendo alcançar 3,5 milhões, no caso de estúdios de cobertura com área externa e piscina no Leblon, na Zona Sul do Rio.
A febre dos edifícios com unidades enxutas vem provocando uma mudança de perfil dos novos imóveis da cidade. Dados do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio) revelam que, no ano passado, foram lançados três vezes mais estúdios (1.667) do que unidades de quatro quartos (538). Em 2022 e 2023, os lofts superaram os sala e quarto em lançamentos e vendas.
Compactos: 13,6% dos lançamentos
Já informações do Sindicato da Indústria da Construção Civil no estado (Sinduscon-Rio) mostram que, desde 2019, quando entrou em vigor o novo Código de Obras, que passou a permitir unidades pequenas (as quitinetes estavam proibidas desde 1970), foram colocados à venda na cidade 12.165 compactos (estúdios e sala e quarto), que representam 13,6% do total de imóveis novos negociados no mesmo período (89.287).
Mais recentemente, os estúdios receberam outros estímulos: o programa Reviver Centro — que a partir de 2021 criou regras urbanísticas e edilícias para incentivar a construção de residenciais na região central — e o novo Plano Diretor — sancionado em janeiro deste ano, que restringiu a exigência de vagas de garagem.
— Diferentemente de cidades como São Paulo, o Rio começou mais tarde a autorizar unidades compactas e tem muito espaço de oportunidade de crescimento. Existe uma demanda grande. A configuração das famílias mudou. Muitos não querem casar ou ter filhos, a população de idosos aumentou e a cidade é um polo universitário. Houve ainda uma mudança de comportamento das pessoas. Hoje, quarto de empregada não é mais uma necessidade. Muitos querem um apartamento compacto num local onde a mobilidade seja fácil — analisa Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio.
Presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), Marcos Saceanu está convencido de que a tendência é surgirem ainda vários empreendimentos compactos na cidade:
— Desde 2019, quando voltaram a permitir imóveis compactos, projetos estão sendo desenvolvidos com muito sucesso, porque essa tipologia de apartamento tem um potencial de aluguel maravilhoso, além de atrair diversos públicos, como estudantes, solteiros, idosos, turistas, etc…Veremos ainda diversos lançamentos oferecendo esse produto, em vários bairros da cidade, com empreendimentos muito bem concebidos, com lazer e serviços.
Para Chicão Bulhões, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, o mercado incorporador entendeu que esses modelos atendem melhor às demandas atuais, "tanto que são os primeiros a serem vendidos":
— Como poder público, estamos desburocratizando e dando incentivos para a construção de mais unidades habitacionais.
‘Adoro o conceito estúdio’
Morador de um flat alugado nas proximidades do Niemeyer 360º Residences, na Barra da Tijuca, o diretor de cinema e TV Daniel Ghivelder, de 46 anos, adquiriu um estúdio, com cerca de 40m2, no terceiro andar do empreendimento, assim que ele foi lançado.
— Sou solteiro e adoro o conceito estúdio. O que comprei, ainda por cima, é em um prédio que leva a assinatura do Niemeyer (o arquiteto Oscar Niemeyer) e tem uma estrutura moderna — justifica.
Rebatizado, o Niemeyer 360°, da Capital1, era a antiga Torre H, arranha-céu redondo, de 120 metros de altura, do projeto Athaydeville, cujas obras foram paralisadas há quatro décadas atrás. No prédio, com previsão de entrega em dezembro de 2025, haverá área de lazer, com piscina de borda infinita e quadras de beach tênis, e rooftop. São 455 estúdios, com 40m2, e 13 duplex, com 80m2. Os preços começam em R$ 661 mil.
— O apartamento é pequeno, prático. E, quando você necessita, tem serviços oferecidos pelo condomínio. Em poucas palavras, você pode ter uma vida que só um multimilionário poderia ter. É o que a gente chama de economia compartilhada. Você usufrui sem precisar ter só para si — diz Antonio Osório Filho, sócio administrador da Capital 1
Ainda na Barra, a Calper lançou recentemente um bairro planejado. O Arte Design terá quatro blocos, com 1.554 unidades, sendo 90% estúdios. Os preços começam em R$ 268 mil.
— A permissão de construção de estúdios corrige uma injustiça que vinha desde 1970. Tem gente morando em franja de comunidade, porque não podia comprar um imóvel maior. O ideal é que a cidade do Rio tenha 50 mil estúdios, sendo 25 mil na Zona Oeste e 25 mil no Centro e na Zona Norte — defende Ricardo Ranauro, CEO da Calper.